segunda-feira, 18 de março de 2013

Tenho para mim





Tenho para mim neste derrotado começo de século
neste farrapo de país em que a própria língua virá em
breve a ser idioma secreto
e a quem ninguém chamará pátria nem tão-pouco
nação, apesar da vigilância sobre a nossa existência
ser matéria autocrática e clerical

tenho para mim que nesta geografia
a casa rural é a expressão mais pura que sobrevive,
qualquer coisa ao alcance entre o castelo e a igreja, entre a cruz e o adro,
ornamento que sustenta o carácter da arte e da paisagem.
Expressão do movimento, de uma cor.

Ao fim do pátio, onde a alma da casa termina, está
uma taça de granito. Bebedouro de pássaros nos meses
quentes, cobre-se de medronhos
pelos cálidos dias outonais do verão de São Martinho.
Em oferta, do áspero amarelo ao quente laranja,
no contraste da pedra o meio dia intensifica de brilho

cambiantes vermelhos – rosa vivíssimo e sangue
esmagado – o calor abre em ouro o corpo do fruto,
insectos despertam de um íntimo, longínquo mundo de
treva, como se subissem da mais antiga morte, da mais profunda vida.


JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE
Mãe-do-Fogo
Relógio d’Água
(2009)
 

7 comentários:

zef disse...

Bem (re)aparecida!
A gente já não se via desde 6 de Junho de 2011!
Um abraço

José Lopes disse...

Foi com alguma surpresa que soube do regresso a esta plataforma, que me alegra.
Cumps

São disse...

Espero que o regesso seja mesmo para valer e que contniues a dar.me a o prazer da tua visita assídua, rrss

Abraço de matar saudades

Meg disse...

Zé, a vontade é muita assim como as saudades. Apesar das alterações que encontrei no blogger, lá iniciei esta nova caminhada apesar de saber que será difícil manter o ritmo de outros tempos. Mas é aqui que me sinto bem, outras paragens nunca me foram nem são muito confortáveis.. E a presença dos amigos será o incentivo maior. Obrigada, Zé!
Um abraço

Meg disse...

São, desta vez é de vez!
E com a companhia dos amigos como tu, a tarefa será bem mais fácil. Tenho muito que me actualizar, São, a engrenagem está emperrada, ahahah!!!
Um abraço

Meg disse...

Zef! Há tanto tempo???
Ah como ele passa depressa! e no entanto tanta água já passou por baixo da ponte, meu caro! Desta vez é de vez. Zef!
Obrigada ela tua presença aqui..
Um abraço

Jorge P. Guedes disse...

Bem reaparecida, Meg.

Muito bonito o blogue e bela escolha, a de João Miguel Fernandes Jorge, que há mais de 40 anos nos embala com a sua escrita poética.

Bjnho.